— «Deixa-te agora de historias, pequeno; e mexe-me esses pés» — e apertava-lhe mais a mão como se d'ella quizesse espremer velocidade. E vae lá óvindo... Tu nan me tenhas a balda de pregar mentiras, que a D. Placida é bem capaz de te arrancar a lingua ou de te encher a boca de pimenta. Na tenda ha bastante. Nan tem que a ir mercar. E a D. Placida nan é p'ra brincadeiras nem nunca ó foi.»
— «Quem é a D. Placida?» — perguntou o pequeno com regular interesse, sem vislumbre de sympathia.
— «A patroa, home: a patroa. Pois quem havera de ser!... Mas tu agora p'ra donde te espantas que nan andas para diente? Já inte me doe o braço. Ora o castigo!»
— «Elle que vae a gritar?» — indagou o Gilberto, indicando um minusclo vendedor de jornaes, que corria apregoando com uma voz usada que quasi deixara já de ser infantil.
— «Elle quem? Forte pasmaceira de rapaz!»
— «Aquelle cachopo...»
— «São os jornaes, home... Sabes tu o que é um jornal?»
— «Sim senhora... Era assim como o pae ganhava quando andava a trabalhar na do tio Roque.»