Elle não soube responder. Concretisando, se morresse a tia Benta, é de suppor que elle não fizesse nada.
— «Ai! Senhora do Carmo! E a gente aqui postos á conversa... Anda, pequeno, desapega!» — e ferrava-lhe uma sacudidela de encommenda.
— «Elle em Lisboa tamem ha-de haver cadeia» — insistiu o Gilberto, como obedendo a uma idea fixa.
— «E bem boa enxóvia! Que tambem, p'ra quem lá vae!... Tu toma mas é sentido no que te digo. Deixa o mais que nan é da tua conta. Vens aqui é p'ra te fazeres homem... Hades ter pé leve e cabeça fresca. Vaes óvindo? Senão, já te aviso... Temos o caldo entornado... A' primeira que me chegue ós óvidos vaes logo recambiado p'rá terra... P'ra isso inda me chegam as posses, louvado Deus!»
— «Tomara eu!» — Havia tanto calor na voz, até ali apagada, que a sr.ª Benta estacou, varada de espanto. O rosto queimado da criança despedia fulgurações selvagens.
— «Esta agora! Cá vou vendo!... Lingua nan te falta... Nascestes para cabra, nascestes para animal... Tens as inscripções tiradas... Mas antão, meu lôrpa, que vens tu cá fazer?»