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Página:Alice Pestana (Caiel) - Retalhos de verdade (1908).pdf/115

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Retalhos de verdade
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— «Pois, claro... Primeiro está a óbrigação... Quando puder ser... Isso lhe agradeço eu, que sempre o saber... Anda, rapaz, vem d'ahi p'ramor de veres a patrôa...»

— «Levo aquillo?» — indagou com voz cavernosa o Gilberto, indicando o total dos seus haveres: chapeo, cajado, saco de chita.

— «Deixa, deixa isso» — opinou o patrão — «Dormes cá em baixo, já te fica ahi tudo.»

O pequeno espargiu em torno um olhar saturno e mergulhou no fundo sombrio da loja, levado a reboque pela tia Benta. Esta parou um momento no sopé da lobrega escadinha por onde descia um acre fartum a sardinha assada, para dizer cauta e sentenciosamente: «Muito cuidadinho, hein? Não esquecer que tens que dar o dom á patrôa. Entendes?» — e como elle não desse o menor signal de intelligencia — «O' rapaz, tu és mouco?»

— «Eu nan tenho nada p'ra dar á patrôa» — declarou o Gilberto, indifferente, encolhendo os hombros.

— «Ai, que castigo!» — Aqui a sr.ª Benta ia a recorrer ao estimulante do puxão de orelhas. Mas o mocinho, levantando o cotovêlo, n'um repelão decidido, baldou-lhe o movimento. Ella desistiu por causa do escandalo e, com a