De principio era que as cousas se levavam. A sua missinha ao domingo e casa. E, quando levasse as compras aos freguezes, tempo marcadinho pelo relogio e puxões de orelhas a volta quando tardasse algum minuto. E nada de mandrüce. que era o que deitava a perder a gente môça. Pelo que lhe constava o rapaz tinha bom costado para o trabalho. Creara-se ao sol e á chuva, duro como as cabras e os rafeiros. Nada lhe havia de quebrar osso...
Estas e muitas outras cousas dissera a sr.ª Benta, do mesmo teor e orientação philosophica.
O Gilberto chegou a Santa Apolonia n'uma manhã de janeiro frigidissima. Trazia calça e jaqueta de briche e chapeu desabado. Ao hombro um potente cajado. Pendente d'este, um saquito de ramagens. Era portador de dois grandes olhos negros, arregalados para tudo. Movia-se difficilmente. Parecia estonteado na confusão da gente.
Abeirou-se-lhe uma mulher de chale e lenço e perguntou: Tu é que és o Gilberto?
O rapaz acenou que sim com a cabeça. E concentrou n'aquella creatura agreste a attenção antes distribuida allucinadamente por todos os recantos da estação.