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A HISTÓRIA DA TARTARUGA FALSA
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cabeça!” Os condenados ficavam sob a guarda dos soldados, que naturalmente tinham de deixar de fazer de arcos. De modo que meia hora depois já não havia mais arcos no campo de croquet e todos os jogadores, menos Alice e o Rei, estavam presos para serem decapitados. A Rainha, então, abandonando a partida, e já quase sem fôlego, perguntou a Alice:

— Já viu a Tartaruga Falsa?

— Não, Majestade, nem tenho a menor idéia do que possa ser semelhante criatura.

— Venha, então, que a apresentarei, para que ela conte a você a sua história, disse a Rainha.

Caminharam juntas. De passagem Alice ouviu o Rei dizer aos prisioneiros: “Estão todos perdoados!”

— Ainda bem! pensou Alice, que tinha ficado terrìvelmente impressionada com aquela enorme quantidade de condenações.

Pouco depois passaram por perto dum Grifo que dormia ao sol (se o leitor não sabe que monstro é êste, veja a gravura.)

— Acorde mandrião! ordenou a Rainha. E conduza esta menina à presença da Tartaruga Falsa, para que conheça tôda a sua história. Tenho de ir ver se cumpriram as minhas ordens. Disse e retirou-se, deixando Alice sozinha com o Grifo. A menina não gostou de sua cara, mas refletiu que quem vê cara não vê coração, e, portanto, talvez fôsse preferível aquela companhia à da Rainha malvada. E ficou.

O monstro ergueu-se vagarosamente, esfregou os olhos sonolentos e, contemplando a Rainha que se afastava, exclamou: — Que grande pândega!”