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A QUADRILHA DAS LAGOSTAS
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— A razão, explicou êste, é que quando foram à dança das lagostas, de mêdo de serem agarradas pelo rabo e atiradas longe, meteram os rabos na bôca e nunca mais puderam tirá-los. Eis tudo.

— Obrigada! disse a menina. É muito interessante a explicação. Não há mais alguma coisa?

— Se quer, poderei contar outra, observou o Grifo. Sabe por que se chamam pescadas?

— Nunca pensei nisso.

— Tão simples! Chamam-se pescadas porque são pescadas, disse o Grifo.

Alice desapontou com a brincadeira, mas a Tartaruga disse-lhe umas amabilidades que lhe fizeram voltar o bom humor e pediu-lhe que contasse alguma coisa da sua história.

— Poderei contar minhas aventuras, disse Alice, começando pelas de hoje, porque ontem eu era outra pessoa.

— Como isso? Explique-se! suplicou a Tartaruga.

A menina começou a contar sua história desde o momento em que viu pela primeira vez o Coelho Branco. Ficou meio nervosa a princípio, porque as duas criaturas vieram postar-se muito próximas dela, uma de cada lado, de bôcas abertas e olhos arregalados. Mas vendo que eram boas pessoas, criou coragem e continuou. Os ouvintes permaneceram quietos até o momento em que Alice contou a passagem do encontro com o Bicho-Cabeludo, na qual as palavras lhe saíam atrapalhadas. Nesse ponto a Tartaruga interrompeu-a, dizendo:

— Isso é muito curioso!