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VIAGEM À TOCA DOS COELHOS
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Alice tinha aprendido na escola aquilo de quilômetros e centro da terra. Por isso aproveitou o momento para recordar a lição.

Sim continuou. “A distância que já caí deve andar nuns 6.600 quilômetros, pelo menos. Em que latitude e longitude estarei?”

Outra coisa que tinha ouvido na escola: isso de latitude e longitude. Não sabia o que era, mas gostava de repetir palavras tão científicas.

Depois disse: “Gostaria de saber se estou caindo bem a prumo pelo interior da terra. Seria engraçado se atravessasse a terra inteirinha e fôsse sair do outro lado, onde está a gente que anda de cabeça para baixo. Creio que se chamam “antípedes.” Alice pensou isso, mas percebeu logo que tinha errado. Era antípodas que queria dizer. E ficou muito satisfeita de que sòmente tivesse pensado errado, em vez de dizer errado em voz alta. Imaginem se alguém a ouvisse pronunciar semelhante asneira!”

E pôs-se a imaginar a sua chegada à terra dos antípodas. Encontraria na rua uma senhora. Dirigia-se a ela e perguntaria: “Diga-me, cara senhora: é isto por aqui a Nova Zelândia ou a Austrália?” (Fêz a pergunta de modo muito gentil, como é de uso entre as meninas bem educadas.) Mas viu logo que se assim procedesse daria sinal de ignorância, e resolveu que nada perguntaria. Em vez disso, olharia para os letreiros das casas e as placas das ruas para verificar em que país estava, sem ter necessidade de perguntar nada a ninguém.