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UMA REUNIÃO ORIGINAL
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menina em voz meio baixa, receosa de que o Rato se ofendesse outra vez.

— A minha história é muito triste e comprida, suspirou o Rato.

Alice, que naquele momento estava com olhos postos na caudinha do Rato, ficou a imaginar que a sua história deveria ser tão comprida como sua cauda, talvez mais comprida ainda e tôda cheia de voltas. E lá dentro da cabeça pôs-se a imaginar que a história do Rato devia ser qualquer coisa assim:

Romão disse a um ratinho
que ia passando por perto
dêle:“Pare aí.Temos já
de ir ao juiz.Quero te
acusar.”“Vamos”,res-
pondeu o ratinho.“A
consciência de nada me
acusa e saberei defen-
der-me.” “Muito bem”,
disse o gato. “Aqui
estamos diante do se-
nhor juiz.”“Não o
vejo”, disse o rati-
nho. “O juiz sou
eu”,disse o gato.
Eojúri?”,per-
guntouoratinho.
“Ojúritambém
soueu”,disseo
gato.“Eopro-
motor?”pergun-
touoratinho.
“O promotor
também sou
eu.” “Então
você é tu-
do?” disse
o ratinho.
“Sim por-
que sou o
gato. Vou
acusar vo-
cê, julgar
você e
comer
você.”