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LEWIS CARROLL

Alice estava assim absorvida na sua história imaginada quando o Rato a chamou a si.

— Você não está prestando atenção! gritou êle com severidade. Em que pensa?

— Desculpe-me! disse Alice com humildade. Julguei que já estivesse acabada a história.

— Ainda não a comecei, disse o Rato zangadíssimo.

— Olhe êste nó! exclamou Alice mostrando um nòzinho na sua saia, querendo à custa do nó mudar de assunto. Ajude-me a desatá-lo.

Mas o Rato estava sèriamente ofendido. Levantou-se para ir-se embora e disse: — Você está mas é a insultar-me essa bobagem de nó na saia.

— Não tive intenção de insultá-lo, Senhor Rato, murmurou a pobre Alice. O senhor também se ofende por qualquer coisinha...

Tão irritado estava o Rato que nem respondeu. Foi saindo. Alice correu atrás dêle, dizendo: — Não seja mau. Volte e conte-nos a sua história. Todos os outros bichinhos a acompanharam naquele pedido: — Volte, volte, não seja mau! O Rato, porém, limitou-se a sacudir a cabeça com energia e apressou ainda mais o passo.

— Que pena que não ficasse! disse o Papagaio assim que o Rato desapareceu. E suspirou. Uma velha carangueja aproveitou a oportunidade para dar uma lição à filhinha que estava com ela: — Aprenda, menina. A gente nunca deve irritar-se, porque faz papel feio. Mas a pequena carangueja, que era muito mal-criada, respondeu à mamã: — Deixe-se de bobagens. A senhora com os seus sermões é capaz de fazer até uma ostra perder a paciência.