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O COELHO DÁ ORDENS
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— Que será de mim, meu Deus! exclamou Alice desconsolada, sem saber como escapar daquela terrível situação. Como me arrependo de haver saído de casa! Vivia sossegada, sem êste perigo constante de ora crescer, ora diminuir, e sem ter que aturar coelhos e ratos mandões. Antes nunca tivesse visto o Coelho Branco no jardim. Mas mesmo assim esta vida não deixa de ser curiosa, pensou mudando de idéia. “Quando lá em casa eu lia contos de fadas, não acreditava em nada daquilo, mas agora vejo que acontecem. Que lindo livro dariam estas aventuras em que ando metida! Que pena não escreverem um assim! E por que não escrevê-lo eu mesma? Quando crescer farei isso, estou resolvida. Quando crescer? Oh, agora me lembro que crescida e até demais estou eu! Estou tão crescida que já nem tenho mais por onde crescer...”

E Alice foi por aí afora, nesse eterno diálogo consigo mesma, até que ouviu uma voz dizer do lado da rua: — Mariana, traga logo as minhas luvas e o leque!

Era o Coelho, furioso da vida, que já vinha a subir as escadas. Esquecendo-se que estava mil vêzes maior que êle, Alice pôs-se a tremer da cabeça aos pés, de puro mêdo. E tanto tremeu que abalou a casa tôda.

O Coelho chegou ao alto da escada, e tentou abrir a porta. Não conseguiu. Os cotovelos de Alice estavam a escorá-la como grandes trancas. Vendo que por ali não podia passar, o Coelho retirou-se, murmurando consigo: “Vou dar volta e entrar pela janela.” Mas a janela estava entupida pelo braço de Alice e quando o Coelho se aproximou a mão da menina se fechou como para agarrá-lo. Alice não agarrou coisa nenhuma, mas