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O COELHO DÁ ORDENS
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— Não sei, respondeu Periquito voltando a si e meio tonto ainda. Estou muito atordoado. Uma coisa misteriosa me fêz subir pelos ares que nem foguete.

Mais discussões e cochichos. Por fim disse o Coelho: — O melhor é botar fogo na casa. Tragam palha e fósforos.

Ouvindo aquilo, e receando que a incendiassem, Alice teve uma grande idéia e gritou: — Se puserem fogo na casa, eu chamo a Diná e ela caça vocês todos!

Fêz-se pesado silêncio, durante o qual Alice pensou: “Que será que vão fazer agora? Se fossem mais inteligentes, deitariam abaixo o telhado. Mas aposto que nenhum ainda teve essa idéia.”

Passados uns segundos, ouviu-se de novo a voz do Coelho: “Para começar basta um carrinho cheio”, dizia êle.

“Cheio de quê?” interrogou-se Alice, sem poder atinar com a resposta. Dali a pouco, entretanto, soube de que era cheio o carrinho. De pedras! Começaram a chover pedras na janela. Parecia um bombardeio.

— Parem com isso, seus bobos! Não vêem que estão me machucando? gritou Alice com tôda a fôrça.

Mais uma vez tudo caiu em profundo silêncio. Notou Alice com espanto que ao caírem as pedras iam se transformando em biscoitos e teve uma idéia luminosa.

— Se eu comer um dêstes biscoitos, com certeza alguma coisa acontece que talvez melhore a minha situação. E como não é possível crescer mais, quem sabe se diminuo?

Alice comeu um dos biscoitos e logo sentiu, com imensa alegria, que lentamente começava a ficar menor.