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CONSELHOS DO BICHO-CABELUDO
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— Está errado, disse o Bicho. Vejo que você está mesmo atrapalhada da cabeça. Diga-me: de que tamanho quer ser?

— Não faço questão de tamanho. O que quero é ficar sempre do mesmo tamanho. Nada atrapalha tanto a vida da gente como esta história de mudar de tamanho diversas vêzes por dia. O senhor deve compreender isto muito bem.

— Não compreendo, foi a resposta do esquisito Bicho.

Alice mordeu os lábios e calou-se. Nunca ninguém a havia contrariado tanto. Sua paciência ia chegando ao fim.

— Está satisfeita com a altura que tem agora? Quer ficar sempre assim? perguntou depois duma pausa o Bicho.

— Não, senhor. Quero crescer um pouco mais. Dez centímetros não é altura de gente.

— É uma excelente altura! retorquiu o Bicho quase zangado. E endireitou-se todo para mostrar que êle era um grande figurão e tinha exatamente aquela altura.

— Para mim não é, replicou Alice. Não estou acostumada a ter dez centímetros. Mas não se ofenda, senhor Bicho, Não há razão para isso.

— Não está acostumada, mas com o tempo se acostumará, disse o Bicho, e levando o cachimbo à bôca tirou uma longa baforada.

Alice esperou com paciência que êle acabasse de fumar e retomasse a conversa. Ao cabo de alguns instantes o Bicho-Cabeludo pôs o cachimbo de lado, bocejou