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LEWIS CARROLL

guma coisa. Mas como não voltasse, dirigiu-se para os lados da Lebre Telhuda.

“Já vi muitos chapeleiros,” ia murmurando, “e é gente que não me interessa. Prefiro conhecer a Lebre Telhuda. Como estamos em maio, é possível que esteja menos maluca do que em abril.”

Não tinha ainda terminado êste raciocínio, quando ao erguer os olhos viu o Gato reaparecer novamente na árvore.

— Que está pensando? indagou êle.

— Não é da sua conta! respondeu Alice aborrecida com aquela espionagem. Melhor seria que ficasse ou se fosse embora duma vez.

— Muito bem, disse o gato filosòficamente — e começou a desaparecer pela terceira vez; primeiro desapareceu a ponta do rabo, depois as pernas e por fim a cabeça. O corpo todo já havia desaparecido e a cabeça ainda estava no pau, com a careta sempre.

— Tenho visto muito gato que não faz careta e já vi um gato careteiro. Mas careta só, sem gato atrás, é a primeira vez que estou vendo...

Duzentos passos adiante Alice encontrou a casa da Lebre. Ou pelo menos a casa que devia ser da Lebre, porque a chaminé tinha forma de orelha e o telhado era coberto de pele, em vez de telhas. Casa enorme, tão grande que antes de entrar Alice resolveu comer um pedacinho do cogumelo que aumentava a estatura. E enquanto comia, pensava:

“Se a Lebre estiver doida furiosa, com certeza vou arrepender-me de tê-la procurado em vez do Chapeleiro ...”