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LEWIS CARROLL

— Se não pára de falar, é melhor que conte a história duma vez.

— Não, não! Por favor, continue! Prometo não interromper mais, disse a menina humildemente.

Menos aborrecido, o Rato do Campo continuou:

— As três maninhas aprenderam a tirar do poço...

— Quê?

— Doces! declarou o Rato, sem zangar-se com a nova interrupção.

— Quero uma xícara limpa! gritou o Chapeleiro. Vamos todos mudar de lugar. E levantou-se, seguido do Rato do Campo e da Lebre, trocando assim de lugar. Alice, muito contra a vontade, foi sentar-se no lugar da Lebre. Quem saiu lucrando com a troca foi o Chapeleiro, que ficou com as torradas da menina; e quem mais perdeu foi Alice, porque a Lebre havia derramado todo o leite da sua leiteira na mesa.

A menina não queria novamente ofender o Rato com as suas interrupções, mas não resistiu à tentação de perguntar:

— Mas como tiravam elas o doce do poço?

— Assim como se tira água dum poço dágua assim também se tira doce dum poço de doce, explicou o Chapeleiro.

— Mas as irmãs estavam no fundo do poço e não fora dêle! objetou Alice.

— Isso lá é verdade, confirmou o Rato do Campo, deixando Alice tão aturdida que resolveu calar-se e não mais perguntar coisa alguma. O contador da história, já com os olhos pesados de sono, bocejava, esfregava a cara e dizia, continuando a sua horrível narração: