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O JARDIM VIVO
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Mais voavam que corriam. Seus pés mal tocavam o solo. Súbito a Rainha parou e Alice, totalmente sem fôlego, viu-se quase desmaiada no chão. A Rainha encostou-a a uma árvore, dizendo com carinho: — Pode descansar um bocado agora.

Olhando em tôrno teve Alice uma grande surprêsa. — Como isto? perguntou. — Estamos sempre debaixo da mesma árvore. Parece que não saímos do ponto onde estávamos. Não noto mudança nenhuma.

— Está claro! disse a Rainha. Para que mudanças?

— Na minha terra, replicou Alice ainda arquejante, quem corre como nós corremos chega sempre a um ponto diferente daquele donde partiu.

— Deve ser uma terra muito lenta essa! comentou a Rainha. Aqui é preciso correr como corremos para ficar-se no mesmo ponto. Para mudarmos de lugar seria preciso que corrêssemos o dôbro.

— Oh, não quero experimentar isso! exclamou a menina aflita. Prefiro ficar onde estou. Sinto-me afogueada e com muita sêde.

— Já o imaginava, disse a Rainha, tirando duma caixinha um biscoito que ofereceu à menina.

Alice não teve ânimo de recusar, embora tivesse apenas sêde, não fome. Mas foi obrigada a comer o biscoito, que era dos tais cracnéis muito secos que dão mais sêde ainda.

— Enquanto você mata a sêde vou eu tomar algumas medidas urgentes, disse a Rainha tirando do bôlso uma fita métrica com a qual começou a medir o chão para fincar pequenas estacas. Ao cabo de dois me-