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TWEEDLEDUM E TWEEDLEDEE
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— Engano, contestou Dee com ar de quem sabe.

Você não estaria em parte nenhuma, porque não passaria duma personagem dos seus sonhos.

— Se o Rei Negro acordasse, acrescentou Dum, você desapareceria tal qual a luz duma vela assoprada.

— Não desapareceria coisa nenhuma! exclamou Alice indignada. Se sou apenas uma personagem dos sonhos dêsse Rei, que serão vocês, digam-me?

— A mesma coisa! responderam a um tempo Dum e Dee, em voz tão gritada que Alice se assustou de mêdo que o Rei Negro despertasse. Calem-se! — exclamou ela. — Vocês estão a fazer muito barulho.

— Como fala em despertá-lo, menina, se você não passa duma simples personagem dos sonhos dêle? Creio que já provamos que você não é uma criatura real.

— Sou real, sim! gritou Alice, começando a chorar.

— Não ficará mais real chorando, declarou Dee. Nada adianta chorar.

— Se eu não fôsse real não poderia chorar, disse a menina misturando um sorriso com as lágrimas.

Tweedledum disse então com o seu grande ar de superioridade: — Acredita por acaso que essas lágrimas sejam reais?

Isto fêz Alice pensar lá consigo: “Estes tipos só dizem asneiras e grande tolice minha é chorar.” Em vista do que enxugou os olhos e prosseguiu na conversa o mais alegremente que pôde, voltando ao começo. — Preciso sair desta mata antes que anoiteça. Não lhes parece que está ameaçando tempestade?

Tweedledum abriu o seu guarda-chuva e examinou-o por dentro. Só depois é que respondeu à pergunta.