— Que pobre memória tem! Como deve ser triste isso de só poder lembrar-se do que já aconteceu!...
— Diga-me, Rainha, que espécie de coisas a memória de Vossa Majestade se lembra primeiro?
— Oh, das coisas que vão acontecer daqui a quinze dias, está claro! Agora, por exemplo, continuou a grande dama grudando um pedaço de esparadrapo na ponta do dedo, está o Mensageiro do Rei sendo castigado na prisão. O julgamento dêsse criminoso só será daqui a uma semana e o seu crime só será cometido daqui a duas semanas.
— Mas suponha que êle não cometa nenhum crime! objetou Alice.
— Seria muito melhor, não acha? respondeu a Rainha amarrando o esparadrapo com um fio de linha.
Alice não pôde contestar aquilo: — Sem dúvida que seria muito melhor. Mas ainda melhor seria se êle não fosse castigado já.
— Está você errada nesse ponto, contestou a Rainha. Diga-me, já foi castigada alguma vez?
— Sim, mas por faltas realmente cometidas, respondeu Alice.
— E ganhou alguma coisa com isso?
— Não se trata de ganhar ou não ganhar. Trata-se de castigos que sofri em conseqüência de faltas que cometi. A diferença é enorme.
— Mas se você não houvesse cometido essas faltas seria muito melhor, observou a Rainha. Muitíssimo melhor. Muitíssimo melhor! Muitississímo melhor — e cada vez que repetia a palavra melhor subia de tom vários pontos.