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LÃ E ÁGUA
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Alice começou a pensar que devia existir um êrro qualquer em tudo aquilo. Nisto a Rainha rompeu numa gritaria infernal. — Oh! Oh! Oh! berrava ela sacudindo a mão como se quisesse deitá-la fora. Meu dedo está sangrando! Oh!

Seus gritos pareciam apitos de locomotiva, tão fortes e agudos que Alice teve de tapar os ouvidos.

— Que aconteceu, Majestade? perguntou Alice quando a gritaria deu folga. — Espetou o dedo?

— Ainda não espetei, respondeu a Rainha, mas vou espetá-lo. Oh! Oh! Oh!...

Nesse momento o alfinête de segurança que lhe prendia o xale abriu-se e a Rainha o agarrou nervosamente, procurando fechá-lo de novo.

— Cuidado! exclamou Alice. Vossa Majestade o está fechando torto, disse espichando as mãos para tomar o alfinête e fechá-lo direito. Era tarde. A Rainha já havia espetado o dedo.

— Vê? exclamou ela. É assim que as coisas acontecem aqui.

— Mas por que não grita agora, Magestade — agora que está com o dedo realmente espetado?

— Porque já gritei antes, respondeu a Rainha sorrindo. Seria inútil repeti-lo agora.

Enquanto as duas levavam o tempo naquela prosa sem pé nem cabeça, o céu começou a clarear. As sombras desapareceram. — O corvo já se foi embora, disse a menina. — Muito me alegra semelhante fato. Não era a noite que vinha vindo, como pensei, era o corvo.

— Eu também quisera alegrar-me com alguma coisa, disse a Rainha com ar triste. Você pode considerar-se