Página:Alice no País do Espelho (Trad. Lobato, 2ª edição).pdf/68

Wikisource, a biblioteca livre
66
ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

feliz de alegrar-se com qualquer coisa neste bosque, e alegrar-se quando quer...

— Sim, mas acho muito solitário isto aqui, observou Alice, em cujos olhos duas lágrimas principiavam a brotar.

— Oh, não faça isso! Não chore! exclamou a Rainha torcendo as mãos com desespêro. Pense que já é uma menina grande. Pense no caminho que já andou hoje. Pense que são quatro horas da tarde. Pense em tudo isto e não chore.

Alice foi forçada a rir-se no meio do chôro. — Acha, então, Majestade, que pensando em tôdas essas coisas posso parar de chorar?

— Perfeitamente! declarou a Rainha com grande decisão. É o jeito. Ninguém pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. Se você pensa no que eu digo, está claro que tem de parar o chôro. Pense na sua idade. Que idade tem?

— Sete anos e meio, exatamente.

— Não diga exatamente, observou a Rainha. Eu acreditarei na sua idade sem êsse exatamente. E eu? Sabe que idade tenho? Nada menos de cem anos, cinco meses e um dia.

— Não posso acreditar nisso, Majestade!

— Não pode? fêz a Rainha com cara de dó. Experimente. Faça um esforço. Tome bastante fôlego e feche os olhos.

Alice ria-se a morrer.

— Inútil experimentar, Rainha. É-me impossível crer em coisas impossíveis.