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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

— Um caranguejinho! exclamou Alice contente. Que bom, que bom!

Mas a ovelha gritou encolerizada: — Não me está ouvindo exclamar “Pena, pena?” e passou a mão em mais agulhas.

— Sim, estou, respondeu Alice. Não sou surda e você já disse isso várias vêzes. Mas onde está o caranguejo?

— Na água. Onde mais? gritou a ovelha enfiando várias agulhas na lã, na cabeça, porque na sua mão não cabiam tôdas. E continuou: — Pena pena!

— Que história de tanta pena é essa? indagou Alice intrigada. Eu não sou ave.

— É sim. Você não passa dum ganso.

Aquilo ofendeu a menina, que emburrou por um minuto ou dois, enquanto o bote seguia seu curso, às vêzes por entre plantas aquáticas, às vêzes sob árvores que cresciam nas margens.

— Oh, por favor! Dê-me algumas das flôres tão lindas que crescem nestas árvores! Como são cheirosas!

— Inútil pedir “por favor” a mim, disse a ovelha sem tirar os olhos do seu crochê. Não fui eu quem pôs essas flores nas árvores, nem serei eu quem as possa tirar.

— Não é isso. Estou pedindo licença, para colhêr essas flores. Permite a senhora que o barco pare por um instante?

— Como posso parar o barco se é você quem está remando? Se você pára de remar, o barco pára também.

Vendo que era assim mesmo, Alice parou de remar e o barco seguiu a correnteza até meter-se entre os gua-