Página:Alice no País do Espelho (Trad. Lobato, 2ª edição).pdf/73

Wikisource, a biblioteca livre
LÃ E ÁGUA
71

pés florescidos. Lá a menina debruçou-se e, completamente esquecida da ovelha, pôs-se a colhêr as flôres. Para isso inclinou-se até tocar com os cabelos na água, apesar do mêdo que tinha de que o bote virasse.

— Que linda! exclamou tentando colhêr uma flor que fugia da sua mão. Mas viu outra inda mais linda adiante. E outra mais adiante. Notou que as lindas, lindas, lindas estavam sempre mais adiante, de modo que nunca as podia alcançar. — As lindas estão sempre mais adiante exclamou ela por fim, com os cabelos molhados e desistindo da colheita. Tinha de contentar-se com as mais feias, únicas que pudera colhêr.

Mas, que pena! As flores colhidas fanavam-se ràpidamente porque eram flôres de sonho que se derretiam como a neve e ficavam aos seus pés como pingos de água suja.

Não muito longe dali um dos remos afundou nágua e não quis mais sair. Como Alice o puxasse com fôrça, o remo deu-lhe uma rabanada, que a lançou do bote para cima dos guapés.

Não se machucou e pôde pôr-se de pé imediatamente. Olhou em redor: a ovelha continuava no seu crochê como se coisa nenhuma houvesse acontecido. — Foi um lindo caranguejo que você pegou, disse ela quando Alice conseguiu pular de novo para dentro do bote.

— Foi? exclamou a menina admirada, a olhar em tôrno e no fundo do bote a ver se descobria algum caranguejo. Não o vejo! Que pena se me fugiu! Tanto que queria ter um caranguejo em casa...

A ovelha continuava no seu crochê, sorrindo com ar velhaco.