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I


É na botica d’uma villa de provincia, velho burgo acastellado, orgulhoso dos seus foraes e brazões como da nobreza que em tempos d’alli sahiu e se espalhou pelo reino, deixando fortes raizes na terra, que ainda exporta fidalgos como podia exportar qualquer mercadoria.

Despoetizada pela moda que tudo confunde e baralha e pela turba de veraneadores que a procuram para refazerem os pulmões e os nervos, a que os invernos de Lisboa esgotam a energia, é ainda assim das mais typicas e formosas da provincia.

Afóra dos muros, os campos estendem-se verdes — do verde escuro dos pinheiros, do verde cinzento das oliveiras, do verde brilhante dos castanheiros... de longe em longe, manchas risonhas de pomares, salpicadas de casaes brancos, com recortes de velhos campanarios, fachadas ennegrecidas dos antigos solares, e as ermidas caiadas nos cimos dos montes cobrindo com um leve e translucido véo de mysticismo pagão a hilariante festa da natureza.