Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/128

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molle deitado para a nuca e embrulhando um cigarro entre os dedos com minuciosa attenção.

— «Os Viscondes convidam me sempre, mas ainda não sei se os meus nervos me deixarão tolerar esse ruido.

Passava a mão pelos cabellos, encostando-se, nostalgico e sentimental, á secretária onde costumava escrever.

— «Homem, essa constante preoccupação é que te adoenta! Tens nervos como toda a gente; tens saude por sete, deixa te de manias.

— «Se eu não sentisse os terriveis symptomas que sinto!? O que quer dizer então este desespero de tudo e de todos, este odio ao banal que me torturiza e me distanceia da multidão, esta febre de movimento logo seguida das crises de passividade mais completa e absoluta?! Sou um neurasthenico, tenho a certeza.

— «Tanto pensas em sê-lo que te hasde tornar, isso é corrente. Mas eu não te largo, porque sem ti não vou ás festas.

— «Obrigadissimo por esse desejo, mas se eu não poder ir não vás tambem.

— «Isso é que é impossivel. A Hortensia vae e eu não quero faltar.

— «Não sei o que tu fazes com essa coisa! Casar com a Pillar, comprehendia-se, era a fortuna, era um futuro sem sobresaltos que preparavas; approvei a ideia desde que em Coimbra me contaste os teus sonhos de ambição.

— «Lembras te d’esse tempo, oh Telles? — perguntou o outro, a sério.

— «Se me lembro! Quando tu entraste pela porta dentro e me disseste que te matarias se