Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/129

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te não emprestasse o dinheiro para a matricula!...

— «Era verdade. No ultimo anno, era a minha vida inteira que perdia! Quando penso!...

— «E afinal nunca se descobriu quem te roubou o dinheiro, pois não?

— «Nunca! O que diria o Antonio de Mello e meu pae e todos!?... Que eu tinha jogado, naturalmente. Ficava desacreditado! Salvaste-me a vida, crê.

— «Ora que ideia! Fiz o que tu ou outro qualquer faria no meu logar.

— «Fizeste o que poucos seriam capazes de fazer: pôr a tua casa, a tua bolsa, tudo quanto tinhas á minha disposição...

— «E tu não me pagas com amizade?!

— «E sincera que ella é: a unica grande amizade que tenho. A prova está em que não guardo um segredo para ti, não tenho pensamento que te não confie.

— «Ahi está o que desejo: como não tenho grandes ambições com as tuas me contento. E a proposito — que tolice é essa agora da Hortensia?

— «Então que queres? A Pillar era uma escada d’oiro para subir, esta é uma escada de corda, mas tambem por ella se trepa... Questão de tempo e de vontade. Metteu-se o diabo com aquelle negocio e foi um desastre!... Este é de mais trabalho, mas n’um paiz como o nosso tem tambem maiores vantagens.

— «Isso está muito bem, mas o que dirá a Candida? Não tencionas casar com ella?

— «Com ella, eu?!... Se a prima lhe tivesse deixado a fortuna, não digo que não.