Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/166

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para uma força que já não tinha, a da serenidade d’ânimo.

— «O que querem então dizer essas lagrimas a bailarem-te nos olhos?... Queridinha, não se tem impunemente vinte e dois annos!

— «Mas o que tenho eu? Oh, Mary, se sabes o que sinto, se desconfias alguma coisa, dize, por Deus te peço! Eu não sei o que é.

— «Deveras?... Á tua cabecinha tão ajuisada não veio nunca o pensamento de que ha em nós um coração, um doido, que se póde conservar adormecido, mas que em acordando faz sempre loucuras?!...

— «Mas que loucuras póde fazer o meu, que tão egualmente reparto entre ti e meu tio?

— «E mais ninguem merece a sua sympathia, minha senhora?!... Nem aquelle que alem vem com tão melancolica sombra? — perguntou-lhe ao ouvido e indicando João que se aproximava acompanhado pela Candida e seguido por mais pessoas que vinham ao pic-nic.

— «João? Sou muito amiga d’elle, sou, mas que tem isso de extraordinario? Não é teu primo, quasi filho pela amisade? Estimo-o por isso como a um irmão muito querido.

— «Sabes? É custoso acreditar n’essa amisade fraternal entre uma rapariga como tu e um rapaz como o João, educados n’um meio de intellectualidade que lhes fará difficil a escolha em Portugal, ambos livres e comprehendendo-se bem... Elle é muito bondoso; gostava que se entendessem definitivamente. Não te poderia vêr casada com qualquer homem, Bella. Seria uma profanação vêr-te nas garras d’esses abutres...