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— «Oh, muito obrigada pela generosidade, mas nós as mulheres já temos os nossos direitos: queremos tambem as nossas responsabilidades. Despresamos a vossa piedade cavalheiresca, que nos dava a irresponsabilidade... das crianças. — Respondeu Bella com certo entono comico, que muito divertiu o tio e fez esboçar um sorriso ao João, a quem a questão não agradava.

— «Vamos, Visconde, não ha remedio: ella reclama justiça, justiça se fará, mas... talvez de moiro, que é o que ellas querem...

— «Se elle não apresenta a queixa, já vê que é uma prova de que não está seguro da sua justiça...

— «Menina, isso é um sophisma.

— «Não é tal! O caso é que a valsa acaba e a questão não acaba antes. Eu a exponho em duas palavras. O sr. João de Mello convidou-me para a primeira valsa e o Visconde para a segunda. Ora eu estive lá dentro e só agora venho dançar, — qual é a primeira para mim?

— «Realmente! — Burns deu uma alegre risada — um theologo não defenderia melhor um dogma arrevezado. Tu tens razão, o teu par é o João e o meu caro Visconde vae ficar compensado passando pelo Messias desejado de duas almas em pena que lhe vou mostrar.

E levou o alegremente a uma das pobres raparigas que lamentaram não ter par que dançasse com ellas uma vez ao menos...

Bella agradeceu-lhe com um sorriso, e, pondo a fina mão desluvada no hombro de João, deixou que elle a enlaçasse com um respeito quasi de religioso tocando em preciosidade cultual.