Seguiram na valsa colleante que os levava na corrente de um rythmo de musica vinda do norte, do paiz dos longos amores sentimentaes e dos lendarios castellos alcandorados nas montanhas...
Iam, levando-se nos braços um do outro, sem se verem nem ouvirem por entre aquella confusão divertida, obedecendo quasi mechanicamente ao espreguiçar inebriante da musica, n’um estonteamento de felicidade que parecia dar-lhes asas n’uma inconsciencia a roçar pelo sonho, tão intenso, tão extra-terreno era esse goso.
Só quando os ultimos acordes morreram nos violinos chorosos é que elles pararam, ambos egualmente atordoados e commovidos, deante de uma das portas do terraço, onde se ia respirar um pouco d’ar puro embalsamado pelas rosas trepadeiras.
— «Sabe que está encantadora, miss Bella!? — murmurou João levando-a para a varanda onde se refugiaram os conversadores.
— «Não diga isso, meu amigo.
— «Porque não, se é a verdade, o que sinto, o que vejo com os meus proprios olhos?!...
— «É o mesmo que qualquer outro me diria.
— «E que culpa temos nós de que as palavras estejam tão banalisadas que não haja meio de exprimir com ellas uma coisa nova, delicada, e sentida como eu a sinto?!
— «Que voz a sua, João! não me falle assim! Atemorisa-me. Eu, que nunca tive medo de coisa alguma, estou agora tremendo como uma criança — dizia commovida, encostando-se á balaustrada de pedra e ficando toda na sombra.