Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/97

Wikisource, a biblioteca livre

Para quê, afinal? Era tão feliz na doçura tépida e confiante d’aquella amizade fraternal, que nem mesmo queria averiguar o que de vulgar e humano ella continha.

Para que perturbar esse enlevo com a materialisação d’um sonho, que na realidade não passaria d’uma vulgar intriga?

Depois, a Viscondessa era d’uma honestidade tão simples e consciente, e com tanta graça e tanta nobreza sustentada, que nem a sombra de uma suspeita impura ousaria roçar-lhe pela alma. E era ainda por isso que mais a estimava, que a adorava, quasi — porque era adoração o que sentia ao vê-la tão serena e tão bôa, tão intellectual e distincta! Tinha vontade de ajoelhar, silencioso, resignado, e até feliz na passividade do extasi.

Elle, que era um tanto rude na franqueza do dizer, achava, para as suas intimas conversas de bons amigos, phrases d’uma tão carinhosa ternura como só as sabe ter um coração de mãe.

Tão pouco humano, tão desinteressado era aquelle affecto, que não sentia pelo Visconde a mais leve repulsão. Se não eram amigos, como era natural que o não fossem, sendo tão fundamentalmente dispares, era-lhe todavia dedicado bastante para o auxiliar politicamente, e para lhe ser até agradavel a sua intima convivencia. Invejava-lhe um pouco, talvez, — criancices de amoroso — a delicadeza do seu perfil aristocratico, a maneira requintada de vestir, a simplicidade suprema com que punha o alfinete de perola na gravata de setim preto, collocava uma