Página:Amor de Perdição (1862).pdf/101

Wikisource, a biblioteca livre

como a nossa... Ai! eras tu, menina? Olha, se estivessemos a fallar mal de ti!

— Eu sei que tu nunca fallas mal de mim — disse a prelada, piscando o olho a Thereza. — Ahi está essa menina que diga o que eu lhe estive a dizer das tuas boas qualidades...

— Pois o que eu disse de ti — respondeu soror Dionizia da Immaculada Conceição — não precisas de perguntar, porque felizmente ouviste o que eu estava dizendo. Oxalá que se podesse dizer o mesmo das outras que deshonram a casa, e trazem aqui tudo intrigado n’uma meada, que é mesmo coisa de peccado.

— Então não vaes ao côro, nini? — tornou a prioreza.

— Já agora é tarde... Tu absolves-me da falta, sim?

— Absolvo, absolvo; mas dou-te como penitencia beberes um copinho...

— Do estomacal?

— Podéra...

Dionizia cumpriu a penitencia, e sahiu para, dizia ella, deixar a prelada na sua hora de oração.

Não delongaremos esta amostra do evangelico e exemplar viver do convento, onde Thadeu de Albuquerque mandára sua filha a respirar o purissimo ar dos anjos, em quanto se lhe preparava crysol, mais depurador dos sedimentos do vicio, no convento de Monchique.

Encheu-se o coração de Thereza de amargura e nojo n’aquellas duas horas de vida conventual. Ignorava ella