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a, e diz-me a noite e a hora em que devo esperar-te. Se não podéres fugir, essas portas hão de abrir-se diante da minha cólera. Se d’ahi te mandarem para outro convento mais longe, avisa-me, que eu irei sósinho, ou acompanhado, roubar-te ao caminho. É indispensavel que te refaças de animo para te não assustarem os arrojos da minha paixão. És minha; não sei de que me serve a vida se a não sacrificar a salvar-te. Creio em ti, Thereza, creio. Ser-me-has fiel na vida e na morte. Não soffras com paciencia; lucta com heroismo. A submissão é uma ignominia, quando o poder paternal é uma affronta. Escreve-me a toda a hora que possas. Eu estou quasi bom. Diz-me uma palavra, chama-me, e eu sentirei que a perda do sangue não diminue as forças do coração.»

Simão pediu a sua carteira, tirou dinheiro em prata, deu-o ao ferrador, e recommendou-lhe que o entregasse á pobre com a carta.

Depois ficou relendo a de Thereza, e recordando-se da resposta que déra.

Mestre João foi á cosinha, e disse a Marianna:

— Desconfio d’uma coisa, rapariga.

— Que é, meu pae?

— O nosso doente está sem dinheiro.

— Porquê? o pae como sabe isso?

— É que elle pediu-me a carteira para tirar dinheiro, e ella pezava tanto como uma bexiga de porco cheia de