Página:Amor de Perdição (1862).pdf/125

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que fosses para Coimbra, e deixassemos esquecer a meu pae os ultimos acontecimentos. Senão, meu querido esposo, nem elle me dá liberdade, nem eu sei como hei de fugir d’este inferno. Não fazes ideia do que é um convento! Se eu podesse fazer do meu coração sacrificio a Deus, teria de procurar uma atmosphera menos viciosa que esta. Creio que em toda a parte se póde orar e ser virtuosa, menos n’este convento.»

N’outra carta exprimia-se assim: «Não me desampares, Simão, não vás para Coimbra. Eu receio que meu pae me queira mudar d’este convento para outro mais rigoroso. Uma freira me disse que eu não ficava aqui; outra positivamente me affirmou que o pae diligenceia a minha ida para um convento do Porto. Sobre tudo, o que me aterra, mas não me dobra, é saber eu que o intento do pae é fazer-me professar. Por mais que imagine violencias e tyrannias, nenhuma vejo capaz de me arrancar os votos. Eu não posso professar sem ser noviça um anno, e ir a perguntas tres vezes; hei de responder sempre que não. Se eu podesse fugir d’aqui!... Hontem fui á cêrca, e vi lá uma porta de carro que dá para o caminho. Soube que algumas vezes aquella porta se abre para entrarem carros de lenha; mas infelizmente não se torna a abrir até ao principio do inverno. Se não poder antes, meu Simão, fugirei n’esse tempo.»

Tiveram entretanto bom e prompto exito as diligencias de Thadeu de Albuquerque. A prelada de Monchique,