Página:Amor de Perdição (1862).pdf/139

Wikisource, a biblioteca livre

egua, e d’aqui a tres horas estou de volta com quatro homens, que são quatro dragões.

Simão fitára os olhos chammejantes nos do ferrador, e Marianna exclamára, ajuntando as mãos sobre o seio:

— Meu pae! não lhe dê esses conselhos!...

— Cala-te ahí, rapariga! — disse mestre João — vai tirar o albardão á egua, amanta-a, e bota-lhe sêcco. Não és aqui chamada.

— Não vá afflicta, senhora Marianna — disse Simão á moça, que se retirava amargurada. — Eu não aproveito algum dos conselhos de seu pae. Ouço-o com boa vontade, porque sei que quer o meu bem; mas hei de fazer o que a honra e o coração me aconselhar.

Ao anoitecer, Simão, como estivesse sósinho, escreveu uma longa carta, da qual extractamos os seguintes periodos:

«Considero-te perdida, Thereza. O sol de ámanhã póde ser que eu o não veja. Tudo, em volta de mim, tem uma côr de morte. Parece que o frio da minha sepultura me está passando o sangue e os ossos.

Não posso ser o que tu querias que eu fosse. A minha paixão não se conforma com a desgraça. Eras a minha vida: tinha a certeza de que as contrariedades me não privavam de ti. Só o receio de perder-te me mata. O que me resta do passado é a coragem de ir buscar uma morte digna de mim e de ti. Se tens força para uma agonia lenta, eu não posso com ella.