Página:Amor de Perdição (1862).pdf/160

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— Seu pae teve algum perigo? — tornou Simão em voz só perceptivel d’ella.

— Não, senhor.

— Está em casa?

— Está; e parece furioso. Queria vir aqui; mas eu não o deixei.

— Perseguiu-o alguem?

— Não, senhor.

— Diga-lhe que não se assuste, e vá depressa socegal-o.

— Eu não posso ir sem fazer o que elle me disse. Eu vou sahir, e volto d’aqui a pouco.

— Mande-me comprar uma banca, uma cadeira, e um tinteiro e papel — disse Simão, dando-lhe dinheiro.

— Ha de vir logo tudo; já cá podia estar; mas o pae disse-me que não comprasse nada sem saber se sua familia lhe mandava o necessario.

— Eu não tenho familia, Marianna. Tome o dinheiro.

— Não recebo dinheiro, sem licença de meu pae. Para essas compras trouxe eu de mais. E a sua ferida como estará?

— Ainda agora me lembro que tenho uma ferida! — disse Simão, sorrindo — Deve estar boa, que não me dóe.... Soube alguma coisa da D. Thereza?

— Soube que foi para o Porto. Estavam alli a contar que o pae a mandára metter sem sentidos na liteira, e está muito povo á porta do fidalgo.