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III.

 

E Thereza?

Perguntam a tempo, minhas senhoras, e não me hei de queixar se me arguirem de a ter esquecido e sacrificado a incidentes de menos porte.

Esquecido, não. Muito ha que me reluz e voeja, alada como o ideal cherubim dos santos, n’esta minha quasi escuridade[1], aquella ave do ceu, como a pedir-me que lhe cubra de flores o rastilho de sangue que ella deixou na terra. Mais lagrimas que sangue deixaste, ó filha da amargura! Flores são tuas lagrimas, e do ceu me diz se os perfumes d’ellas não valem mais aos pés do teu Deus que as preces de muita devota, que morre canonisada, e

  1. Este romance foi escripto n’um dos cubiculos-carceres da Relação do Porto, a uma luz coada por entre ferros, e abafada pelas sombras das abobadas. Anno da Graça de 1861.