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A criada julgou que sua ama delirava; mas não a contrariou.

— Teve carta d’elle a fidalga? — tornou ella, cuidando que assim lhe alimentava aquelle instante de febril contentamento.

— Tive... queres ouvir?... eu leio...

E leu a carta, com grande pasmo de Constança, que se convenceu.

Agora vamos rezar, sim?... Tu não és inimiga d’elle, não? Olha, Constança, se eu casar com elle, tu vaes para a nossa companhia. Verás como és feliz. Queres ir, não queres?

— Sim, minha senhora, vou; mas elle conseguirá livrar-se da morte?

— Livra; tu verás que livra; o pae d’elle ha de livral-o... e a Virgem Santissima é que nos ha de unir. Mas se eu morro... se eu morro, meu Deus!

E com as mãos convuísamente enlaçadas sobre o seio, Thereza archejava em pranto.

— Se eu não tenho já forças!... todos dizem que eu morro, e o medico já nem me receita!... Então melhor me fôra ter acabado antes d’esta hora! Morrer com esperanças, ó mãe de Deus!...

E ajoelhou ante o retabulo devoto, que trouxera do seu quarto de Vizeu, ao qual sua mãe e avó já tinham orado, e em cujo rosto compassivo os olhos das duas senhoras moribundas tinham fixado os seus ultimos raios de luz.