Fallou o aguazil á prelada, exigindo em nome do juiz de fóra, que dois medicos entrassem no convento a examinar a doente D. Thereza Clementina de Albuquerque, a requerimento de seu pae.
Perguntou a prelada aos medicos se elles tinham a necessaria licença ecclesiastica para entrarem em Monchique. Á resposta negativa redarguiu a abbadessa que as portas do convento não se abriam. Disseram os medicos de Thadeu de Albuquerque que era aquelle o estylo dos mosteiros, e não houve que redarguir á rigorosa prelada.
Sahiram, e o ferrador só então reflectiu no modo de entregar a carta, A primeira ideia pareceu-lhe a melhor. Chegou ao ralo, e disse:
— Ó senhora freira!
— Que quer vocemecê? — disse a prelada.
— A senhora faz favor de dizer á senhora D. Therezinha de Vizeu, que está aqui o pae d’aquella rapariga da aldeia, que ella sabe?
— E quem é vocemecê?
— Sou o pae da tal rapariga que ella sabe.
— Já sei! — exclamou de dentro a voz de Thereza, correndo ao locutorio.
A prelada retirou-se a um lado, e disse:
— Vê lá o que fazes, minha filha...
— A sua filha escreveu-me? — disse Thereza a João da Cruz.
— Sim, senhora, aqui está a carta.