Página:Amor de Perdição (1862).pdf/203

Wikisource, a biblioteca livre

E depositou na roda a carta, em que a abbadessa reparou, e disse sorrindo:

— Muito engenhoso é o amor, Therezinha... Permitta Deus que as noticias da rapariga da aldeia te alegrem o coração; mas olha, filhinha, não cuides que a tua velha tia é menos esperta que o pae da rapariga da aldeia.

Thereza respondeu com beijos ás jovialidades carinhosas da santa senhora, e sumiu-se a lêr a carta, e a responder-lhe. Entregando a resposta, disse ella ao ferrador:

— Não vê ahi sentada n’aquella escadinha uma pobre?

— Vejo, sim, senhora, e conheço-a. Como diabo veio aqui parar esta mulher? Cuidei que depois da esfrega, que lhe deu o hortelão, a pobresita não tinha pernas que a cá trouxessem! A mulher pelos modos tem fibras d’aquella casta!

— Falle baixo — tornou Thereza — Pois olhe... quando trouxer as cartas, entregue-lh’as a ella, sim? Eu já a mandei á cadêa; mas não a deixaram lá entrar.

— Bem está, e o arranjo não é mau assim. Fique com Deus, menina.

Esta boa nova alegrou Simão. A Providencia divina apiedára-se d’elle n’aquelle dia. O restaurar-se o juizo de Marianna, e a possibilidade de corresponder-se com Thereza, eram as maximas alegrias, que podiam baixar do ceu ao seu cerrado infortunio.