Página:Amor de Perdição (1862).pdf/205

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são como as pêras verdes; um homem apalpa-as, e, se o dedo acha duro, deixa-as, e não as come. É como é. A rapariga sáe á mãe. Minha mulher, que Deus haja, quando eu lhe andava rentando, dei-lhe um dia um beliscão n’uma perna. E vai ella põe-se direita comigo, e deu-me dois cascudos nas trombas, que ainda agora os sinto. A Marianna!... aquillo é da pelle de satanaz! Pergunte o senhor, se algum dia fallar com aquelle fidalguinho Mendes de Vizeu, a troçada que elle levou com as rédeas da egua, só por lhe bolir na chinela, quando ella estava em cima da burra!

Simão sorriu ao rasgado panegyrico da bravura da moça, e orgulhou-se secretamente dos brandos affagos com que o ella desvelára em oito mezes de quasi continuada convivencia.

— E vocemecê ha de privar-se da companhia de sua filha? — insistiu o prêso.

— Eu lá me arranjarei como podér. Tenho um cunhada velha, e levo-a para mim para me arranjar o caldo. E v. s.^a pouco tempo aqui estará.... O senhor corregedor lá anda a tratar de o pôr na rua, e que o senhor sáe cá para mim são favas contadas. E assim com’assim, vou dizer-lhe tudo d’uma feita: a rapariga, se eu a não deixasse vir para o Porto, dava um estoiro como uma castanha. Olhe que eu não sou tolo, fidalgo. Que ella tem paixão d’alma por v. s.^a isso é tão certo como eu ser; João. É a sua sina; que hei de eu fazer-lhe? Deixál-a,