Página:Amor de Perdição (1862).pdf/206

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que pelo senhor Simão não lhe ha de vir mal, ou então já não ha honra n’este mundo.

Simão lançou-se aos braços do ferrador, exclamando:

— Podésse eu ser o marido de sua filha, meu nobre amigo!

— Qual marido!... — disse o ferrador com os olhos vidrados das primeiras lagrimas que Simão lhe vira — Eu nunca me lembrei d’isso, nem ella!... Eu sei que sou um ferrador, e ella sabe que póde ser sua criada, e mais nada, senhor Simão; mas, sabe que mais, eu não desejo que os meus amigos sejam desgraçados como havia de ser o senhor se casasse com a pobre rapariga! Não fallemos n’isto, que eu por milagre choro; mas quando pego a chorar sou um chafariz... Vamos ao arranjo: a mesa deve aqui ficar; a commoda ali; duas cadeiras d’este lado, e duas d’aquelle. A barra acolá. O bahu debaixo da cama. A bacia e a bilha da agua sobre esta coisa, que não sei como se chama. Os lençoes e o mais bragal tem-os lá a rapariga. Ámanhã é que o quarto ha de ficar que nem uma capella. Olhe que a Marianna já me disse que comprasse duas aquellas... como se chamam aquellas invasilhas de pôr ramos?

— Jarras.

— É como diz, duas jarras para flôres; mas eu não sei onde se vende isso. Agora vou buscar o jantar, que a moça ha de cuidar que me não deixam sahir da cadêa. Ainda lhe não disse que não me deixaram cá entrar hontem