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— Não preciso nada. Esmolas só as recebo d’aquella mulher.

Já Manoel tinha reparado em Marianna, e da belleza da moça inferira conclusões para formar falsos juizos.

— E quem é esta menina? — tornou Manoel.

— É um anjo... Não lhe sei dizer mais nada.

Marianna sorriu-se, e disse:

— Sou uma criada do senhor Simão, e de v. s.^a

— É cá do Porto?

— Não, meu senhor, sou dos arrabaldes de Vizeu.

— E tem feito sempre companhia a meu mano?

Simão atalhou assim á resposta balbuciante de Marianna:

— A sua curiosidade incommoda-me, mano Manoel.

— Cuidei que não era offensiva — replicou o outro, tomando o chapéo. — Quer alguma coisa para a mãe?

— Nada.

Estando Manoel Botelho, na tarde d’esse dia, fechando as malas para seguir jornada para Villa Real, foi visitado pelo desembargador Mourão Mosqueira, e pelo corregedor do crime.

— Devemos á espionagem da policia — disse o corregedor — a novidade de estar n’esta estalagem; um filho do meu antigo amigo, condiscipulo e collega Domingos Correia Botelho. Aqui vimos dar-lhe um abraço, e offerecer o nosso prestimo. Esta senhora é sua esposa? — continuou o magistrado, reparando na açoriana.