Página:Amor de Perdição (1862).pdf/212

Wikisource, a biblioteca livre

— Não é minha esposa... — balbuciou Manoel — é... minha irmã.

— Sua irmã!... — disse Mosqueira — qual das tres? Ha cinco annos que as vi em Vizeu, e grande mudança fez esta senhora, que não me recordo das suas feições absolutamente coisa nenhuma! É a senhora D. Anna Amalia?

— Justamente — disse Manoel.

— Bella, lhe affirmo eu que está, minha senhora; mas fez-se um rosto muito outro do que era!...

— Vieram vêr o infeliz Simão? — atalhou o corregedor.

— Sim, senhor... viemos vêr meu pobre irmão.

— Foi um raio que cahiu na familia aquelle rapaz!... — ajuntou Mosqueira — mas póde estar na certeza que a sentença não se executa; diga a sua mãe que m’o ouviu da minha bôca. O meu tribunal está preparado para lhe minorar a pena em dez annos de degredo para a India, e seu pae, segundo me disse na passagem para Villa Real, já preparou as coisas na supplicação e no desembargo do paço, não obstante o morto lá ter parentes poderosos nas duas instancias. Quizeramos absolvêl-o, e restituil-o á sua família; mas tanto é impossível. Simão matou, e confessa soberbamente que matou. Não consente mesmo que se diga que em defeza o fez. É um doido desgraçado com sentimentos nobilissimos! Chovem cartas de empenho a favor do Albuquerque. Pedem a cabeça do pobre rapaz com uma sem-ceremonia que indigna o animo.