Página:Amor de Perdição (1862).pdf/215

Wikisource, a biblioteca livre

— Eu sou pae de Manoel — disse Domingos Botelho — Sei a historia da senhora. O infame é elle. V. s.^a é a victima. O castigo da senhora principiou desde o momento em que a sua consciencia lhe disse que praticou uma acção indigna. Se a consciencia lh’o não disse ainda, ella lh’o dirá. D’onde é?

— Da ilha do Fayal — respondeu tremula a dama.

— Tem familia?

— Tenho mãe e irmãs.

— Sua mãe aceital-a-ia se a senhora lhe pedisse abrigo?

— Creio que sim.

— Sabe que Manoel é um desertor, que a estas horas está prêso ou fugitivo?

— Não sabia...

— Quer isto dizer que a senhora não tem protecção de alguem.

A pobre mulher soluçava, abafada por ancias, e debulhada em lagrimas.

— Porque não vai para sua mãe?

— Não tenho recursos alguns — respondeu ella.

— Quer partir hoje mesmo? Á porta da estalagem encontrará uma liteira, e uma criada para acompanhal-a até ao Porto. Lá entregará uma carta. A pessoa a quem escrevo lhe cuidará da passagem para Lisboa. Em Lisboa outra pessoa a levará a bordo da primeira embarcação que sahir para os Açores. Estamos combinados? Aceita?