Página:Amor de Perdição (1862).pdf/222

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— Ora viva! — disse o passageiro.

— Viva! — respondeu mestre João, relanceando os olhos pelas quatro patas da mula, a vêr se tinha obra em que entreter o espirito — A mula é de ropia e chibança!

— Não é má. Vocemecê é que é o senhor João da Cruz?

— Para o servir.

— Venho aqui pagar-lhe uma divida.

— A mim? o senhor não me deve nada que eu saiba.

— Não sou eu que devo; é meu pae, e elle foi que me encarregou de lhe pagar.

— E quem é seu pae?

— Meu pae era um recoveiro de Garção, chamado Bento Machado.

Proferida metade d’estas palavras, o cavalleiro afastou rapidamente as bandas do capote, e desfechou um bacamarte no peito do ferrador. O ferido recuou, exclamando:

— Mataram-me!... Marianna, não te vejo mais!...

O assassino teria dado cincoenta passos a todo o galope da espantada mula, quando João da Cruz, debruçado sobre o banco, arrancava o ultimo suspiro com a cara posta no chão, d’onde apontára ao peito do almocreve dez annos antes.

Os caminheiros, que perpassaram pelo cavalleiro inadvertidamente, ajuntaram-se em redor do cadaver. Josefa acudiu ao estrondo do tiro e já não ouviu as ultimas palavras de seu cunhado. Quiz transportal-o para dentro,