Página:Amor de Perdição (1862).pdf/221

Wikisource, a biblioteca livre

elle consoante costumavam, e achavam-no taciturno e nada para graças.

— Que tens tu, João? — dizia um.

— Não tenho nada. Vai á tua vida, e deixa-me, que não estou para lérias.

Outro parava e dizia:

— Guarde-o Deus, senhor João.

— E a vocemecê tambem. Que novidade ha?

— Não sei nada.

— Pois então vá com nossa Senhora, que eu estou cá de candeias ás avessas.

O ferrador largava o martello; sentava-se aos poucos no tronco, e coçava a cabeça com frenesi. Depois recomeçava novamente, e tão alheado o fazia, que estragava o cravo, ou martellava os dedos.

— Isto é coisa do diabo! — exclamou elle; e foi á cosinha procurar a pichorra, que emborcou como qualquer elegante de paixões ethereas se aturde com absyntho — Hei de afogar-te, coisa má, que me estás apertando a alma! — continuou o ferrador, sacudindo os braços, e batendo o pé no soalho.

Voltou ao coberto a tempo que um viandante ia passando sobre a sua possante mula. Envolvia-se o cavalleiro n’um amplo capote á moda hespanhola, sem embargo da calma que fazia. Viam-se-lhe as botas de coiro cru com esporas amarellas afiveladas, e o chapéo derrubado sobre os olhos.