Página:Amor de Perdição (1862).pdf/231

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paredes nuas do seu antro; quando o desterraram, acompanhei-o, fiz-me a patria d’aquelle pobre coração, trabalhei á luz do sol homicida para elle se resguardar do clima, do trabalho, e do desamparo, que o matariam...»

O espirito de Marianna não podia altear-se á expressão do prêso; mas o coração sinil, esse adivinhava-lhe as ideias. E a pobre moça sorria e chorava a um tempo. Simão continuou:

— Tem vinte e seis annos, Marianna. Viva, que esta sua existencia não póde ser senão um supplicio occulto. Viva, que não deve dar tudo a quem lhe não póde restituir senão as lagrimas que lhe eu tenho custado. O tempo do meu desterro não póde estar longe; esperar outro melhor destino seria uma loucura. Se eu ficasse na patria, livre ou prêso, pediria a minha irmã que completasse a obra generosa da sua compaixão, esperando que eu lhe désse a ultima palavra da minha vida. Mas não vá comigo á África ou á India, que sei que voltará sósinha á pátria depois que eu fechar os olhos. Se o meu degredo fôr temporario, e a morte me guardar para maiores naufragios, voltarei á patria um dia. E preciso que Marianna aqui esteja para eu poder dizer que venho para a minha familia, que tenho aqui uma alma extremosa que me espera. Se a encontrar com marido e filhos, a sua familia será a a minha. Se a vir livre e só, irei para a companhia de minha irmã. Que me responde, Marianna?