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A filha de João da Cruz, erguendo o olhos do pavimento, disse:

— Eu verei o que hei de fazer quando o senhor Simão partir para o degredo....

— Pense desde já, Marianna.

— Não tenho que pensar... A minha tenção está feita...

— Falle, minha amiga, diga qual é a sua tenção.

Marianna hesitou alguns segundos, e respondeu serenamente:

— Quando eu vir que não lhe sou precisa, acabo com a vida. Cuida que eu ponho muito em me matar? Não tenho pae, não tenho ninguem, a minha vida não faz falta a pessoa nenhuma. O senhor Simão póde viver sem mim? paciencia!... eu é que não posso...

Sosteve o complemento da ideia como quem se peja d’uma ousadia. O prêso apertou-a nos braços estremecidamente, e disse:

— Irá, irá comigo, minha irmã. Pense muito no infortunio de nós ambos d’ora em diante, que elle é commum, é um veneno que havemos de tragar unidos, e lá teremos uma sepultura de terra tão pesada como a da patria.

Desde este dia, um secreto jubilo endoidecia o coração de Marianna. Não inventemos maravilhas de abnegação. Era de mulher o coração de Marianna. Amava como a fantasia se compraz de idear o amor d’uns anjos que