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Se pódes, vive; não te peço que morras, Simão; quero que vivas para me chorares. Consolar-te-ha o meu espirito... Estou tranquilla... Vejo a aurora da paz... Adeus até ao ceu, Simão.»

Seguiram-se a esta carta muitos dias de terrível taciturnidade. Simão Botelho não respondia ás perguntas de Marianna. Dil-o-ieis arrobado nas voluptuosas angustias do seu proprio aniquilamento. A creatura, posta por Deus ao lado d’aquelles dezoito annos tão attribulados, chorava; mas as lagrimas, se Simão as via, tiravam-no da mudez socegada para impetos de afflicção, que a final o extenuavam á força de convulsões.

Decorreram seis mezes ainda.

E Thereza vivia, dizendo ás suas consternadas companheiras, que sabia ao certo o dia do seu trespasse.

Duas primaveras vira Simão Botelho pelas grades do seu carcere. A terceira já inflorava as hortas, e esverdeava as florestas do Candal.

Era em Março de 1807.

No dia 10 d’esse mez recebeu o condemnado intimação para sahir na primeira embarcação que levava ancora do Douro para a India. N’esse tempo vinham aqui os navios buscar os degredados, e recebiam em Lisboa os que tinham igual destino.

Nenhum estorvo impedia o embarque de Marianna, que se apresentou ao corregedor do crime como criada do degredado, com passagem paga por seu amo.