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— E a passagem vale-a bem! — disse o galhofeiro magistrado.

Simão assistiu no encaixotar de sua bagagem, n’uma quietação terrivel, como se ignorasse o seu destino.

Quiz muitas vezes escrever a derradeira carta á moribunda Thereza, e nem signaes de lagrimas podia já enviar-lhe no papel.

— Que trevas, meu Deus! — exclamava elle, e arrancava a mãos cheias os cabellos — Dai-me lagrimas, Senhor! deixai-me chorar, ou matai-me, que este soffrimento é insupportavel!

Marianna contemplava estarrecida estes e outros lances de loucura, ou os não menos medonhos da lethargia.

— E Thereza! — bradava elle, surgindo subitamente do seu spasmo — E aquella infeliz menina, que eu matei! Não hei de vêl-a mais, nunca mais! Ninguem me levará ao degredo a noticia da sua morte! E quando a eu chamar para que me veja morrer digno d’ella, quem te dirá que eu morri, ó martyr!