Página:Amor de Perdição (1862).pdf/257

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mas, d’um modo ou d’outro, era inevitavel fechar os olhos quando se rompesse o ultimo fio, este ultimo que se está partindo, e eu mesma o oiço partir.

Não vão estas palavras accrescentar a tua pena. Deus me livre de ajuntar um remorso injusto á tua saudade.

Se eu podesse ainda vêr-te feliz n’este mundo; se Deus permittisse á minha alma esta visão!... Feliz, tu, meu pobre condemnado!... Sem o querer, o meu amor agora te fazia injuria, julgando-te capaz de felicidade! Tu morrerás de saudade, se o clima do desterro te não matar ainda antes de succumbires á dôr do espirito.

A vida era bella, era, Simão, se a tivessemos como tu m’a pintavas nas tuas cartas, que li ha pouco. Estou vendo a casinha que tu descrevias defronte de Coimbra, cercada de arvores, flôres e aves. A tua imaginação passeava comigo ás margens do Mondego, á hora pensativa do escurecer. Estrellava-se o ceu, e a lua abrilhantava a agua. Eu respondia com a mudez do coração ao teu silencio, e animada por teu sorriso inclinava a face ao teu seio, como se fosse ao de minha mãe. Tudo isto li nas tuas cartas; e parece que cessa o despedaçar da agonia em quanto a alma se esta recordando. N’outra carta me fallavas em triumphos e glorias e immortalidade do teu nome. Também eu ia após da tua aspiração, ou adiante d’ella, porque o maior quinhão dos