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dava azo a ellas. A mocidade estudiosa, em grande parte, sympathisava com as balbuciantes theorias da liberdade, mais por presentimento que por estudo. Os apostolos da revolução franceza não tinham podido fazer reboar o trovão dos seus clamores n’este canto do mundo; mas os livros dos encyclopedistas, as fontes onde a geração seguinte bebêra a peçonha que sahiu no sangue de noventa e tres, não eram de todo ignorados. As doutrinas da regeneração social pela guilhotina tinham alguns timidos sectarios em Portugal, e esses de vêr é que deviam pertencer á geração nova. Além de que, o rancor a Inglaterra lavrava nas entranhas das classes manufactureiras, e o desprender-se do jugo aviltador de estranhos, apertado, desde o principio do seculo anterior, com as sôgas de ruinosos e perfidos tractados, estava no animo de muitos e bons portuguezes que se queriam antes alliançados com a França, Estes eram os pensadores reflexivos; os sectarios da academia, porém, exprimiam mais a paixão da novidade que as doutrinas do raciocinio.

No anno anterior de 1800 sahira Antonio de Araujo de Azevedo, depois conde da Barca, a negociar em Madrid e Paris a neutralidade de Portugal. Rejeitaram-lhe as potencias alliadas as propostas, tendo-lhe em conta de nada os dezeseis milhões que o diplomata offerecia ao primeiro consul. Sem delongas, foi o territorio portuguez infestado pelos exercitos de Hespanha e França. As nossas tropas, commandadas pelo duque de Lafões, não che-